A Produção de Livros é Cara? Preparem-se, pois os preços poderão aumentar ainda mais

Fabio Andrade
Fabio Andrade

Doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV) com realização de Doutorado Sanduíche na University Of Texas at Austin. Mestre e graduado em Economia. Professor no Curso de Relações Internacionais da ESPM.

A resposta à pergunta que dá título a este texto está longe de ser simples, desse modo alinha-se as polêmicas e reflexões, que compõem o DNA deste Fatos. Argumentos? Nesse sentido, com o propósito de responder, guiarei o leitor através de proposições que têm por objetivo mostrar ao leitor que o (alto) preço dos livros no Brasil é reflexo: a) o trabalho necessário para sua confecção; b) a estrutura do mercado editorial, seja pelas características da demanda, seja pela configuração da oferta; e c) a conjuntura atual contribui para um aumento significativo dos preços.

Resta evidente que, ao final do texto o leitor ainda estará livre para apontar que se trata de um pi pi pi, pó pó pó! A vocês, guardo meu respeito ao apontarem isso e ao reler apenas as proposições deixo aqui um último recurso: a renda média do brasileiro é extremamente baixa, logo, tudo é caro…

E aqui é necessário um disclaimer, atualmente estou envolvido em uma ação pública em defesa da manutenção da isenção tributária sobre livros, especificamente, a campanha “O Livro Transforma”. A partir de agora, a tarefa de avaliação das proposições e das motivações desse escritor cabem exclusivamente ao leitor.

Quanto a primeira proposição, cabe apontar que entre a redação final e o livro impresso e disponível na prateleira há um processo intensivo em mão-de-obra! Essa cadeia produtiva envolve etapas como revisão, edição, preparação, diagramação e, no caso de obras em língua estrangeira, tradução. Tarefas que demandam pessoas com formação e qualificação específicas, características que suscitam dúvidas quanto à disponibilidade oferta de trabalho devidamente qualifica, logo, temos um potencial fator explicativo para o alto custo. Evidentemente, é possível recrutar mão-de-obra não qualificada, assim os preços cairão, certo? Nem tanto, nem tanto. Discorda? OK, façamos assim, compre uma edição barata de “A Megera Domada” e boa sorte com a leitura! Ao final é possível que você duvide da genialidade de Shakespeare, enfim…

Ainda acerca da primeira proposição, a gestão da etapa logística é um gargalo, pois os livros saem da editora com um desconto de 50% no preço de capa. É muita margem? Depende das decisões de estoque e transporte. Sem me aprofundar, vou apresentar dois pontos para reflexão sobre a logística: a) Via de regra, as editoras são boas em editar e ruins em logísticas! Ao comprarmos de editoras os custos e prazos de frete não costumam ser generosos; b) A Amazon criou a ilusão de que logística é simples! Nada mais ilusório, a não ser a crença de que tudo permanecerá caso essa empresa se torne monopolista…

Encaremos agora a segunda proposição. Há problemas com a demanda por livros! Em específico, o principal demandante de livros é o setor público, no detalhe, as compras concentram-se no Programa Nacional do Livro e do Livro Didático (PNLD) do Governo Federal. Só isso? Não, considerando a expansão do ensino privado, em especial, em Nível Superior temos um impulso adicional ao livro como material didático e/ou leitura de apoio. Sejamos direto, a demanda de livros no Brasil concentra-se em material didático e paradidáticos!

Assim, o mercado distribui-se em nichos, em especial para livros que não se liguem diretamente ao ensino! Em mercados nichados a produção concentra-se em pequenas quantidades, em muitos casos, confecção tangenciando o artesanato! Tres Chic? Sim, porém exerce pressão sobre os custos e preço meu caro e persistente leitor!

Ainda sobre a segunda proposição, abordemos o lado da Oferta! Se falamos de nichos, estamos diante de pequenas editoras que concorrem com elementos extra preços, a típica concorrência monopolística, certo? Errrrrrouuuu!! O mercado é concentrado em poucos grupos, os quais controlam parcelas significativas de mercado através de diferentes selos editoriais. Exemplos? Pois não, Companhia das Letras, Grupo Editorial Record; Editora Globo; Editorial Planeta, etc. Em tempo, manuais de Organização Industrial não definem uma causalidade direta entre baixa concorrência e elevadas margens. No entanto, eles claramente nos mostram que não podemos esperar de mercados concentrados os mesmos preços de mercados plenamente concorrenciais. Assim, proponho apenas que reconheçamos: o lado da oferta e a margem das editoras é um fator explicativos dos preços (altos).

Por fim, mas não menos importante, a produção de livros demanda a utilização de commodities, especificamente papel e celulose. Como é de conhecimento público, a definição do preço desses bens segue o mercado-internacional, além disso, em contexto de desvalorização da moeda nacional a exportação torna-se ainda mais interessante para produtores. Ou seja, a matéria-prima para produção de livro é mais um fator que pressiona os preços. A título ilustrativo, apresentamos um número, o Índice Geral de Preços a Mercado (IGP-M) calculado pela Fundação Getúlio Vargas, entre maio de 2020 e abril registra uma alta de 32,02%. Mais uma fonte para preços altos, certo?

Acredito ter apresentado elementos para que os leitores avaliem se os (altos) preços refletem a produção desse item!

Antes que ressentidos se apropriem e/ou desvirtuem esse texto: não, livro não é coisa de rico! O supracitado PNLD possibilita que bibliotecas propiciem acesso a material de didático e leitura complementares. Como quem avisa amigo é, caso ainda haja insistência em acabar com isenção de livros, antecipo: preparem-se para as reclamações de Prefeitos quando o referido programa entregar menos material didático, e os livros para o vestibular sumirem das bibliotecas públicas.

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